sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Odontologia: reflexão


Odontologia: há muito ainda que falar sobre ela


Como prática social, a Odontologia deve justificar sua existência. São conhecidos os raciocínios da saúde bucal coletiva acerca da prática odontológica, e há controvérsias sem que se tenham esgotado os argumentos. Genericamente, a Odontologia como profissão é criticada por sua ineficácia epidemiológica; são igualmente criticados seu alto custo de produção/reprodução, o elitismo dái decorrente e seu exagerado tecnicismo. A despeito dessas críticas todas, genericamente, uma teoria odontológica é mantida intacta. Seria conveniente perguntar se não estaria havendo, nessas críticas, antes ideologia que razão. Pois se uma teoria é preservada - como são as elaborações acerca do adoecimento bucal ou as numerosas prescrições profiláticas de que a profissão se cercou nos últimos 20 anos - de que adiantaria criticar os elementos exteriores da prática?


Entendamos um pouco mais esse ponto. A atividade clínica implica a necessária e específica relação com um indivíduo. Ela é a parte substantiva da assistência mas não da atenção às pessoas, doentes ou não. Se essa relação vem a ser regulada e controlada pelo Estado é outro aspecto. O modo como a clínica concebe o doente e a doença supõe reconhecer a positividade do corpo humano e, mais que isso, que tudo aquilo que vem a ser a economia do organismo se desenrola segundo leis objetivas. A química da natureza e química do organismo são as mesmas, não pode haver duas químicas - era o que ensinava Claude Bernard. Por isso, todo cirurgião sabe que, guardada as condições normais, a hemostasia se processa segundo número finito de fatores, a ferida cicatriza-se em certo e determinado tempo ou que, aplicado determinado agente terapêutico, são esperadas certas reações desejáveis e mesmo outras tantas indesejáveis. Justo por se ter laboratorialmente estabelecido o conceito de normalidade fisiológica é que se pode, com razoável acerto probabilístico, estimar o curso futuro de patologias ( Canguilhem, 1982)


Perante o clínico, finalmente, o corpo positivo pode ser operado positivamente, isto é, do modo certo e seguro, o modo correto, o modo que deve ser como é. O modo de fazer isso é também um modo técnico. Por isso, as técnicas de intervenção serão consideradas tanto mais eficazes quanto mais certas e seguras forem. Muito frequentemente se afirma existir uma única técnica, isto é, um único modo de fazer. Assim, a técnica é positiva e o que a aplica, isto é, o técnico, pode ser visto como um dispositivo de produção de verdades institucionais. Parece sempre haver distanciamento de valor nessas afirmações da filosofia positiva. Nesse sentido preciso, no entanto, é que o técnico revela-se como um sujeito político, ou um agente da política, pois, ao se insinuar como um produtor de verdades, seria a verdade lá dele que estaria sendo anunciada ou, antes, a da instituição à qual ele pertence. Não é assim que procedem os "técnicos" da economia? E não procederiam do mesmo modo todos os demais "técnicos", os da súde incluídos? (Botazzo, 1999)
Texto extraído do livro: "Odontologia em Saúde Coletiva: Planejando ações e promovendo saúde" de Antonio Carlos Pereira & colaboradores. Editora Artmed

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Olá, obrigado pela sua visita, espero que tenha gostado do meu Blog e do que encontrou nele e, retorne sempre que quiser, estou esperando você aqui de novo! Que tal deixar um recado!