sábado, 11 de fevereiro de 2012

MEDIOCRIDADE E CARÁTER

O caráter humano


Por Brasigois Felício


O homem comum é sem caráter porque é medíocre, ou o é medíocre por que não tem caráter? A rigor, não existe, neste termo, o malsinado “mau caráter”, que vive a empestear a atmosfera mental e emocional das pessoas normais, nas favelas, condomínios de luxo, de campos e cidades. O que existe é a criatura de caráter deformado.

A diferença entre o homem de gênio e o homem medíocre é de caráter. O primeiro o tem bem formado, e o segundo também o possui, mas deformado. Pelo ambiente, pela sagrada família, ou por si próprio. Uma pergunta não quer calar em mim: o destino de uma pessoa é construído por seu caráter, ou é seu bom ou mau caráter o autor de seu destino?

Assim como for o caráter, assim será o destino. O segundo é consequência do primeiro.   Assim como existe a vocação do gênio, também há a vocação para a mediocridade. Para realizar a primeira é preciso talento, trabalho e vontade. Para sucumbir à segunda, basta sucumbir à inércia, e à lei da gravidade.

Em todos os segmentos da sociedade, e talvez principalmente no cenário onde pontificam escritores, professores pós-graduados, artistas e os deploráveis pseudos destes nichos, abundam casos de mediocridades que alcançaram a consagração dos prêmios, e o reconhecimento tanto de seus pares quanto das praças associadas.

Muitos são chamados a assumir, fazer que nasça e cresça a semente do gênio em si, mas não dão escuta, preferindo a comodidade de uma mediocridade premiada, ou tornada celebridade de verão. É o que assinala o psicólogo James Hillman, em seu livro “O Código do Ser” (Editora Objetiva): “Nós, da maioria mediana, também somos chamados, mas não seguimos a vocação por muitas razões: os pais inibem-na, os médicos diagnosticam-na, a pobreza estraga-a, ninguém a reconhece, a fé vacila, acontecem acidentes. A gente se acomoda, dá um jeito. A mediocridade de um sapato velho”.

Há uma diferença essencial, entre o Homem de gênio e o que tem vocação para a mediocridade. O Homem de gênio trabalha, com ardente impaciência, até o esgotamento, e o superar os limites de suas forças. E em seu trabalhar de quase fanático é movido por seus sonhos e ideais. As pessoas nascem geniais ou medíocres, ou assim se constroem, e se fazem?
Macunaíma, no rico veio indígena da mitologia amazônida, não é sinônimo de mau-caratice, maldade ou desonestidade crônicas, como muitos são levados a crer, não pelo romance de Mário de Andrade, mas pela interpretação que dele se faz a partir da malsinada frase do craque Gérson, ao fazer propaganda de uma marca de cigarro: “O negócio é levar vantagem em tudo”.

O mito amazônida de Macunaíma pinta o “herói sem caráter” como a criatura ainda inocente, ainda não engessada ou fossilizada pelos pré-conceitos do meio ambiente normótico e doentio, em que vencer, passar a perna nos outros, por meio de malandragem e espertezas, é que confere a uma pessoa o título de bem sucedida ou vencedora. Macunaíma, antes de ser deformado pelo jeitinho brasileiro, é a representação do índio alegre, irreverente, nada tem a ver com o espertalhão, o cínico, o aproveitador da inocência alheia. 

O Homem comum, dito das ruas, mas que vive também nos palácios e ambientes glamurosos, de riqueza, fama e luxo, contenta-se em refestelar-se com as benesses e prazeres proporcionados por sua mediocridade. Geralmente contenta-se em passar horas a fio, em frente ao computador ou aparelho de televisão, sendo controlado pelo controle remoto que tem à mão, bebendo à saúde de sua insanidade.

Dele não se sabe se é preguiçoso por ser medíocre, ou se é medíocre porque é preguiçoso. Não se pense, porém, que cabe apenas aos medíocres desempenhar papéis obscuros, mesquinhos ou invisíveis, no teatro dos dias. Muitas dessas criaturas (aliás, são milhares, e proliferam como praga, neste tempo de celebração de celebridades do vulgar e do trivial) tornam-se personas famosos no show-bis, ou ocupam papéis destacados nos altos escalões, lambuzados de glória e corrupção impune, nos podres poderes da política.

Alguns desses medíocres foram tão poderosos que manipularam como exímios pianistas a consciência de nações inteiras. Só dois exemplos, de notório conhecimento: Adolf Hitler e Joseph Stálin. Boquirrotos e barulhentos representantes da mediocridade vitoriosa abundam e prejudicam, também no lado de baixo do Equador. E geralmente estão entre os mais votados. Será porque o povo escolhe como representante o tipo humano que é, ou gostaria de ser?



Fontes
Google Imagens

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