Basta de violência
por Anna Mocellin
Neste dia 18 de maio é celebrado o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes e, para muitos pequenos, o pesadelo acontece dentro da própria casa. Pesquisas e estudos mostram que não importa a classe social, a raça ou o nível de escolaridade. É dentro de casa que acontece grande parte da violência sexual, geralmente, provocada por pessoas do sexo masculino, como pai, padrasto, tio, parentes ou amigos da família, tendo como alvo preferencial as meninas.
Desde leves carícias pelo corpo até o ato sexual em si, há quem se aproveite da ingenuidade das crianças para realizar fantasias sexuais, sem se importar com as conseqüências que isso pode trazer a eles. A realidade mostra que o abusador geralmente é uma pessoa comum, agradável, simpática e discreta, com pinta de bom pai de família. É dentro do círculo familiar que acontecem a maioria dos abusos, o que torna a denúncia ainda mais difícil. Infelizmente, como o abuso ocorre em segredo, nem sempre se descobre o que está havendo e, como pouca gente tem coragem de denunciar, alguns abusadores continuam agindo, certos de sua impunidade. De acordo com a Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência - Abrapia, somente cerca de 10% a 20% dos casos de abuso contra crianças e adolescentes são registrados.
O modo de ação do abusador, muitas vezes, passa despercebido pelos parentes da vítima. Isso acontece porque nem sempre a criança é violentada, apresentando marcas de relações sexuais ou espancada. A agressão física acontece, mas a maioria dos abusadores prefere agir sutilmente. Eles podem apenas alisar ou beijar a criança, passar as mãos por seu corpo e pelos órgãos sexuais, como se fosse apenas carinho ou, simplesmente, nem tocar nelas. Alguns preferem mostrar filmes de vídeo e revistas pornográficas para a criança, para "ensinar" como se faz sexo, enquanto outros preferem observá-la enquanto toma banho ou troca de roupa. E ainda existe uma outra artimanha: para convencê-la a ser tocada ou a participar de uma relação sexual, muitos apelam para a sedução por meio de elogios, dinheiro ou presentinhos.
As causas do abuso variam. Segundo estudos sobre o tema, o molestador costuma considerar o abuso uma coisa normal, pois pensa que está dando à criança a oportunidade de experimentar o sexo. Para conseguirem o que querem, precisam também convencer a criança de alguma maneira. Uma delas é dizendo que a "brincadeirinha" ou a relação sexual é um "segredo" entre eles, que não deve ser revelado a ninguém. Em seguida, partem para a chantagem, com ameaças. Grande parte das vezes, a criança ouve coisas como "se a mamãe souber do nosso segredo, ela vai ficar muito brava e abandonar você" ou "se você contar para alguém o que nós fazemos, vai apanhar bastante". Confusa e sem saber direito o que está acontecendo, a criança aceita. Tanto por medo das conseqüências quanto por achar que não será mais amada pelo abusador - que, como foi dito, geralmente é um parente muito querido.
Nem sempre os abusadores são pedófilos de plantão. "Existe o abusador situacional, que é aquele que comete o ato impulsivamente, motivado por algum problema psicológico, como fragilidade, autoestima baixa e sentimento de menos-valia. Esses abusam esporadicamente, apenas diante de uma situação como essa. Já o abusador fixado, ou pedófilo, tem as crianças como objeto de desejo sexual. Usa-as para obter satisfação, não só sexual, mas de poder, de controle. É uma pessoa que tem imaturidade no desenvolvimento sexual. A pedofilia é uma doença, a pessoa não tem controle sobre seu desejo e não consegue evitar o abuso", explica a psicóloga e terapeuta de família Vânia Izzo de Abreu, da Abrapia.
Para a psicóloga Mônica Freitas, da Aliança de Psicologia Hospitalar, do Rio de Janeiro, quem abusa sexualmente de alguém tem como característica principal o desejo de transgressão. "São indivíduos que não possuem limites e nenhum significado de moral e respeito. Abusadores são doentes que necessitam de tratamento", define.
Vamos todos abraçar a essa causa e combater a violência seja de que natureza for contras as crianças e adolescentes.
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