Noites Azuis
“O que fazer quando você é a que
resta? Se você é uma escritora, escreve. Agarra-se às palavras”.
Joan Didion
O que fazer quando você é a que
resta? Se você é uma escritora, escreve. Agarra-se às palavras na tentativa de
compreender o impossível, agarra-se para não afundar. Agarra-se porque é
preciso enfrentar as lembranças, sempre fragmentadas, e com elas construir uma
memória que faça algum sentido na paisagem devastada que agora é você. Com 1
metro e 56 centímetros e meio de altura e a silhueta de quem poderá ser levada
embora na primeira brisa, Joan Didion é uma escritora feroz. Examina a si mesma
sem autopiedade ou pieguice e entrega-se ao leitor com todas as suas marcas. A grandeza
de seu texto está na capacidade de entrelaçar a tragédia às pequenas
delicadezas do cotidiano. Como ao perceber que, por muito tempo, escrevera
vendo as roupas de Quintana secar ao sol.
"Noites azuis" tem início em 26 de julho de 2010. Neste mesmo
dia, sete anos antes, Quintana Roo, filha de Joan Didion com o também escritor
John Gregory Dunne, se casava na catedral de são João, o Divino, em Nova York.
Os jasmins em sua trança, a tatuagem da pluméria transparecendo sob o tule, os
colares havaianos... detalhes simples que desencadeiam memórias vívidas da
infância da jovem em Malibu, em Brentwood, e na escola, em Holmby Hills.
Refletindo sobre sua filha, mas também sobre seu papel como mãe, Didion faz a
pergunta que qualquer pai já se fez em algum momento da vida: eu fiz tudo o que
poderia ter feito? Que detalhe passou despercebido? Que detalhe poderia fazer a
diferença nos anos seguintes para evitar a fatídica saudade que hoje é sentida?
Entre lembranças tocantes e, em alguns casos, dilacerantes, a escritora analisa
seus próprios medos, angústias e dúvidas e, ao fazê-lo, compara sua vida ao
período das chamadas noites azuis: “o oposto do declínio da claridade, mas
também seu aviso".
Ao escrever sobre a vida sem
John, ela alcançou uma síntese perfeita da catástrofe humana: “A vida muda num
instante. Você se senta para jantar e a vida que você conhecia acaba de repente”.
Era essa a tragédia inescapável, a emergência para a qual não há equipes de
salvamento. O ano do pensamento mágico tornou-se um best-seller nos
Estados Unidos e vendeu 100 mil exemplares no Brasil. Quintana morreria pouco
antes do lançamento, depois de meses com complicações de saúde cujos detalhes
Joan escolhe não explicar. Tinha 39 anos.
Ela escreve, porém. As palavras
também começam a lhe escapar, ela sente que seus verbos e substantivos “não
dizem o que deviam dizer ou não querem”. Mas Joan vive enquanto escreve – e
escreve para saber que ainda vive. Enquanto escreve, mantém todos vivos. Um
truque desesperado do ilusionista que é todo escritor, mas também um milagre
humano. No livro, Quintana, John e tantos outros que povoaram o mundo de Joan
Didion ainda vivem. E as noites azuis continuam lá.
Fontes
Google Imagens
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