A televisão é hoje um dos principais epicentros culturais, educacionais e sociais quotidianos, por um lado como um elemento sedutor, simulador da realidade e de fácil comunicabilidade e, por outro, combinada com os lazeres familiares e o desempenho de tarefas domésticas.
A televisão tende a impor o seu ritmo ao conjunto da vida social. Torna-se hoje, a par dos outros media e de outras instituições mediadoras, tais como a família e a escola, como uma das principais geradoras de representações colectivas da envolvente social da sociedade. A televisão é uma autêntica janela aberta para o mundo e o meio de reafirmar os valores e os quadros de referência dos cidadãos, não só as suas representações colectivas, mas também os seus diferentes particularismos. No entanto, se é verdade que não nos diz como pensar, dá-nos cada vez mais os assuntos sobre os quais devemos pensar. Oferece-nos poderosas interpretações acerca da forma de compreendermos os acontecimentos que são seleccionados para serem notícias. A televisão, pelo poder da sua visibilidade, tem ainda uma responsabilidade acrescida na informação que disponibiliza aos seus telespectadores, e na sua formação como cidadãos. Por exemplo, os seus telejornais são diariamente a principal, ou quase exclusiva, fonte de informação para mais de três milhões de portugueses, o que por si só, é suficiente para entendermos a televisão como uma das principais fontes para a construção social da realidade. Confrontando estes valores, com os baixos índices de consumos de leitura e de bens da indústria cultural em Portugal, podemos afirmar que são também esclarecedores da importância que têm os conteúdos seleccionados para televisão (Brandão, Nuno Goulart , «Prime Time - do que falam as notícias dos telejornais», 2006, Casa das Letras).
A televisão não representa apenas o mundo em que vivemos mas também define cada vez mais o que ele é realmente, daí a sua importância como geradora de conhecimento e de produção de sentido. Por isso, defendo que a televisão e a educação não são incompatíveis pois permitem a criação de efectivos quadros de formulação de opiniões. Podemos então entender esta relação de duas maneiras possíveis: educar para o uso da televisão, através da formação de telespectadores críticos e activos e, educar através da televisão, principalmente através da emissão e selecção de conteúdos geradores de conhecimento, principalmente na televisão pública como um verdadeiro motor e promotor da indústria da cultura, ao serviço da inteligência e através de um autêntico esforço de cidadania. Neste contexto, a «audiência» não pode apenas ser vista como «share» mas sobretudo, como construtora de verdadeiros indicadores que nos permitem estudar e compreender melhor as evoluções, os estilos de vida, as tendências dominantes e as transformações culturais. Daí, a relevância do discurso dos media, pois surge como decisivo para organizar a experiência do aleatório e lhe conferir racionalidade, visto que ajuda a «formatar» a mentalidade pública, acerca dos assuntos da actualidade.
Hoje, mais do que nunca, a informação qualitativa é a condição básica para uma sociedade livre, plural e de sabedoria que assente nas reais necessidades dos cidadãos e que seja orientada para as grandes questões da vida social e da construção do acervo de conhecimentos que disponibiliza aos cidadãos possibilitando-lhes a plena integração na sociedade.
Nuno Goulart Brandão
(Professor Auxiliar INP / Investigador no Campo dos Media)
Imagens:
http://www.midiativa.tv/blog/?p=514
http://www.serfamilia.com.br/anteriores_01.html
Olá André gostei do seu texto sobre a televisão, mas acredito que existem outros olhares sobre a televisão.
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